A ALMADÉN E O SONHO JOGADO FORA
FlávioMPinto
Com a compra da Almadén anos
atrás pelo Miolo Group, o universo dos vinhos na fronteira alvoroçou-se e esperava
um crescimento maior daquela indústria que dominava os vinhos no Brasil. Era
pequena, mas o seu prestígio era maior do que se imaginava.
A Almadén introduziu um novo
conceito para os vinhos na época: a maneira de como os vinhos e seu universo
são tratados, particularmente na França e Califórnia, dois dos maiores mercados do mundo do vinho.
A começar pelo rótulos dos
vinhos: muito bem confeccionados , bonitos, continham todas as informações
necessárias para um bom entendedor e degustador, tal qual se viam nos vinhos
franceses. Foi um sucesso no Brasil, pois o admirador de vinhos estava sendo,
finalmente, tratado dignamente como
consumidor europeu. A Almadén ensinou o brasileiro a degustar vinhos de
qualidade.
Certa vez, em Belo Horizonte, se
não me engano em 1990, estava com a família numa churrascaria na Av Raja
Gabaglia, subindo á direita logo após a Av. Contorno, quando, ao ler a carta de
vinhos, perguntei ao maitre porque não tinham vinhos da Almadén. Ele me
respondeu assim: “ Não temos por dois motivos- o primeiro é porque nossa adega
está abarrotada, e o segundo é porque, se tivéssemos Almadén, o público só
pediria ele e o que faríamos com os outros?”
O sucesso era um fato
incontestável pela maneira como os degustadores eram tratados pela marca. A
cidade de Livramento vivia em torno da vinícola prestigiando e a administração municipal
apoiando e dando o que a empresa necessitasse em fomentos fiscais. O retorno
era imediato em impostos, empregos e prestigio para a cidade fronteiriça. A
cidade e seu povo admiravam e vibravam com a indústria vinícola, a ponto de
inserirem um cacho de uvas na bandeira do município e a vinícola passar a adotar
o Cerro de Palomas, um símbolo da cidade, nos seus rótulos.
Uma das primeiras providências
dos atuais donos, o grupo Miolo, da Serra gaúcha, foi reclassificar,
independente da qualidade apresentada e reconhecida no mercado brasileiro,
todos os vinhos da Almadén, como de segunda categoria ( Basico Semiluxo e Popular) na base de uma pirâmide que os de outras
filiais, equivalente ou inferiores até aos da Almaden, estavam, e estão ainda,
no topo. E é claro, a seguir, retiraram o Cerro de Palomas dos seus rótulos
para vigorar o seu. Foi mais um tapa na cara de uma cidade que havia abraçado o
projeto vinícola da Almadén.
Para quem havia
produzido vinhos de indiscutível qualidade como os da linha Ouro, Prata,
Cordilheira e Palomas( Cabernet Sauvignon, Gewurztraminer, Pinot Noir , Flora
Palomas, Pinot Saint George) e outros
tantos para encher de orgulho o mercado brasileiro e seus enoconsumidores. A
maior prova da sua capacidade é a produção do Vinhas Velhas, um Tannat
fora-de-série, talvez feito com o que restou dos antigos parreirais, como a
mostrar do que é capaz, que não sei como se sente hoje, se é que vinho
sente, acompanhado de vinhos de
discutível qualidade vendidos, basicamente, no mercado paulista, como se tem
notícia.
Almadén, tempos
atrás, com seus vinhos sofisticados, era símbolo de qualidade nos vinhos
brasileiros, tão carente de um filho para enfrentar os estrangeiros com
dignidade, qualidade e hombridade.
Na realidade, mercadologicamente
falando, o grupo Miolo jogou milhões de reais fora ao desclassificar
internamente uma filial com marca
consagrada, marketing eficiente e produtos verdadeiramente reconhecidos como
líderes no mercado que atuava. Anos de
pesquisa em produtos de qualidade reconhecida no setor foram jogados fora.
Espero que os atuais donos da
Almadén não esqueçam que jogaram fora os sonhos , os símbolos e esperanças de
uma cidade inteira.
QUE OUTRAS VINÍCOLAS INSTALADAS,
E A SE INSTALAR, NA PROMISSORA REGIÃO, TENHAM ISSO COMO FAROL!