EU QUERO UMA D.O. PALOMAS!
FlávioMPinto
Já se sabe que uma designação geográfica a um produto dá um upgrade muito grande. Condições climáticas, de solo, de personalidade do povo, fazem a diferença no marketing ao se promover determinado produto. Na Europa, com destaque para a França, a primeira Appellation d’Origem Controlée-AOC - foi a de Châteauneuf du Pape no vale do Rhône em 1930. A partir daí virou febre e os maiores vinhos franceses começaram a ser reconhecidos por sua indicação de procedência- a AOC.
No Brasil, não sei porque cargas d’água , a matéria foi subdividida em dois segmentos- a Denominação de Origem e a Indicação de Procedência. Talvez para colocar mais alguém “mamando”, ou complicar mais o processo, bem ao gosto tupiniquim.
A pequena Palomas foi a primeira área identificada nos seus produtos pela extinta National Distillers, lançando a marca Almadén, a partir do distrito de Sant’Ana do Livramento-RS.
Foi o embrião nacional de uma AOC brasileira. As linhas de vinhos da grife Palomas, marcaram a indústria vinícola nacional, pois sua qualidade indiscutível o colocava no mesmo nível das marcas estrangeiras existentes no Brasil, na época.
A começar pelo rótulo de padrão internacional, padrão francês, muito distinto e que apresentava informações e itens inexistentes nos rótulos brasileiros.
A resposta do mundo vinícola de vinhos finos brasileiros foi imediata elevando a Almadén á marca mais querida, a mais desejada, a mais confiável e prestigiada, contemplando-a a com 40% do mercado de vinhos finos no país.
Sim, uma pequena vinícola de Sant’Ana do Livramento contra e desbancando as grandes vinícolas da região tradicional da Serra gaúcha.
A ciumeira e a inveja foram enormes ante o sucesso da pequena Almadén e perdura até hoje com a indústria da Serra gaúcha renegando o terroir da região da Campanha, mais particularmente de Santana do Livramento, ao adquirirem uvas na região e se furtarem em informar o terroir nos seus rótulos. No entanto, inúmeras vinícolas da Serra, adquirem oficialmente uvas da região de Sant’Ana do Livramento, colocando como se fosse terroir da Serra gaúcha, ou então, genericamente como região da Campanha. Ora, terroir é uma região/área muito pequena e não uma vasta área de aproximadamente 900 km por 250 indo de Caçapava do Sul á Uruguaiana no Rio Grande do Sul. É o equivalente ao Médoc francês.
Não é de hoje que se sabe que a região de Sant’Ana do Livramento na Campanha gaúcha é uma das mais promissoras e últimas áreas mundiais para produção de uvas finas.
Também se sabe que, a atual dona da marca Almadén e de seus produtos e vinhedos, o Miolo Group, da Serra gaúcha, literalmente destruiu a empresa reduzindo-a, numa canetada, ao canto mais esquecido e desprestigiado do grupo, colocando-a, arbitrariamente, na base de uma pirâmide de qualidade de seus vinhos e espumantes. Foi, o Miolo Group, na contramão da indústria mundial de vinhos que busca a qualidade e sofisticação ao seguir a linha de vinhos baratos e de pouca qualidade.
Se os donos dizem que o produto carece de qualidade, ou é o pior do seu mix de produtos, quem vai comprar?
Um monumental erro de marketing da Miolo relegando ao ostracismo quem era a mais considerada indústria de vinhos finos do Brasil e responsável por ensinar os brasileiros degustar vinhos de qualidade, produzindo vinhos de reconhecida qualidade.
Anos de pesquisas e respeito jogados fora e muito dinheiro também! A Miolo perdeu mais do que ganhou, pois o mercado de vinhos é nome e qualidade. Indiscutivelmente!
Quem consumiu produtos antigos da Almadén, como eu, sabe o que foram aqueles vinhos e espumantes. Plantações de cepas inéditas no mercado nacional simplesmente desapareceram.
E aí, agora, ressurge Palomas, aos poucos, se impondo na última Avaliação dos Vinhos nacionais com seu Chardonnay, que a muito tempo conhecíamos pela qualidade assim como o Tannat Vinhas Velhas, o Gewurztraminer e o Sauvignon Blanc, a mostrarem seu valor renegado por seus novos donos.
Que a Miolo reconheça seu brutal erro histórico e lance no mercado vinícola nacional a AOC Palomas, com prestígio ainda abalado, mas em vigor em termos de reconhecimento de qualidade.
Que Palomas recupere o prestígio que a renomada vinícola tinha no, mercado vitivinícola nacional, pois “quem foi rei sempre será majestade!”