Outro dia pedi a um parente que comprasse,
num freeshop em Rivera- Uruguai, um determinado tipo de vinho- um dos grandes nomes
franceses, ícone do Médoc- para repor na minha adega uma garrafa que degustarei
daqui a algum tempo.
Qual não foi minha surpresa que o
citado vinho, embora fosse da mesma safra, mesmo produtor, mesmo local, apresentava
um rótulo completamente diferente. O contra-rótulo também.
A começar que era bem mais
conservada, mais branca, mais nova, o que não combinava com a safra-2007.
Portanto uma garrafa já rodada no tempo. Tinha de apresentar um desgaste e não
ser tão branca, tão nova.
Mas as surpresas não paravam de
acontecer.
A cor era violeta mas tendendo
fortemente a roxo. Sim, roxo parecendo vinho barato de cantina italiana da
Serra gaúcha.
Na boca não era ruim, mas não era
o que aparentava no rótulo. Nem de longe.
Na Europa, já se tem notícias de
falsificação de vinhos.
Resultado, cuidado extremo ao
comprar vinhos caros em um freeshop. Eu, que já me preparava para comprar um
Charlemagne, recuei.
O Pampa gaúcho ainda é novo em
termos de apresentar novos terroirs para
a indústria do vinho brasileiro.
E a cada dia que passa surge uma
nova fronteira vitivinicola, um novo terroir a ser explorado. São áreas que nem imaginava-se capazes de produzir
uvas de qualidade, vinhos então...
Não possuímos uvas autóctones, no
entanto, algumas internacionais se adaptaram de forma admirável no terroir
gaúcho e em particular na fronteira oeste do Estado. Daí vamos falar da Merlot,
não esquecendo também da Tannat, de retumbante êxito no vizinho Uruguai, e da
Chardonay neste lado da fronteira. .
Não há lugar no mundo
vitivinicola que uma cepa não se saliente e seja alçada no altar mor da região
como seu ícone. É a Cabernet Sauvignon na margem esquerda do Gironde e a Merlot
na direita, a Carmenére no Chile, a Malbec na Argentina, a Pinotage na Africa
do Sul, a Pinot Noir e a Chardonay na Borgonha, a Touriga nacional em Portugal,
a Tempranillo na Espanha e por aí vamos.
Aqui na campanha ainda uma cepa
não adquiriu seu status de líder. No entanto, salta aos olhos a liderança das
uvas brancas seja na produção de vinhos secos como na de espumantes de
qualidade reconhecida.
Duas cepas tomam a dianteira
nessa corrida: nos tintos , a Merlot e nos brancos, a Chardonay. De cara
destaca-se a Chardonay pela grande projeção , particularmente dos espumantes,
nesta quadra histórica.
Embora a Merlot seja a cepa de
maior adaptabilidade no mundo, frutificando em qualquer canto com um mínimo de
cuidados e clima e solo adequados, o
terroir da região da Campanha favorece, e muito, a produção com a Chardonay. A
quantidade de prêmios ganhos por vinhos com a Chardonay da fronteira oeste
gaúcha nos dá respaldo.
Já é hora de se escolher um rumo definitivo
para a mais nobre das brancas. Talvez não se chegue a produzir brancos como em
Chablis, mas basta lembrar que o terreno da Champagne é muito similar a nossa Campanha.
Em primeiro lugar quem sou eu
para avaliar um dos maiores ícones da cultura do vinho! Acho que até o Robert Parker , que lhe dá
entre 92 e 94 pontos na avaliação, ficará brabo comigo por esta tratativa. É
muita pretensão.
Margaux é uma das quatro regiões
do Médoc. O Château é o local mais visitado do Médoc. Integra a mais
proeminente região vinífera da França. Rivaliza com Pauillac na qualidade dos
vinhos. Produz, basicamente, vinhos com 85% de Cabernet Sauvignon e 15% de Merlot, mas podendo abrir seu mix
para a Cabernet Franc, Petit Verdot e até Malbec..
Este é um clássico e legítimo assemblage de Bordeaux: Cabernet
Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot e Merlot. Representante máximo de uma
das mais importantes regiões do Médoc.
Um vinho caro. Não
cabe em qualquer bolso.
Apesar de ter apenas 5 anos de guarda, distante ainda do prazo máximo de
confinamento fui á luta e dentro desse espírito encarei o Margaux 2007. É vinho prá mais de metro. E não é qualquer
hora que se degusta um Premier Gran Cru Classe. Mas não tem problema, pois já
comprei outro, bem mais em conta, só que
um Réserve de l’Estey de Calvet, um vinicultor muito conceituado no Médoc. Não
é o original, mas é um Margaux e estamos conversados. Mais tarde colocarei
minha observação sobre ele.
Cada vinho clássico do Médoc é uma aula para quem quer se habilitar a
conhecer vinhos de elite.
A começar pelo rótulo simples, mas com aparência de nobre, que já nos
coloca em posição de reverência.
Abri e já saltam aromas herbáceos e frutados lembrando framboesas maduras.
Algo de cassis. Aromas agradáveis mostrando que o vinho está bem vivo. Couro e
tostados se pronunciando.
A cor não é muito forte, mas é firme. Uniforme. Um violeta meio opaco, nada
brilhante para um vinho com pouco mais de
5 anos de guarda. Mas a impressão é boa.
Na boca o Margaux se desfaz em sabores de cassis e framboesas bem
caracterizados, cerejas, amoras bem amadurecidas, um pouco de baunilhas, um
festival de frutas vermelhas maduras. O corpo bem pronunciado esbanja potência e
revela o índice alcoolico. Com taninos
amaciados desce bem, apesar de sua complexidade que inspira meditação sobre o
que se está bebendo. Ah, isso é desde a compra.
Numa segunda camada encontramos menta , especiarias e até chocolate numa
maciez que encanta. Afinal estamos diante de um Margaux! Volumoso e harmônico ,
enche a boca de sabores sem qualquer indício de amargor.
A cada gole uma lição magistral sobre vinhos é assimilada. Os sinais de
alcaçuz são marcantes dando um toque de maior refinamento.
Uma enciclopédia líquida estava ao nosso alcance de degustação. Elegante,
aristocrático, equilibrado, macio, decididamente agradável é o Margaux tinto
2007.
Enfim, um retrogosto incrívelmente duradouro e saboroso nos esperava. Um
vinho que nos deixa a sensação de se averiguar, sempre, o que se tem a beber.
Um vinho de intensa responsabilidade de quem vai degustá-lo.
Não é prá qualquer pessoa bebê-lo.
Tem-se de entendê-lo para melhor aproveitar suas qualidades. Esta é a minha opinião.
Esta é a segunda oportunidade que tive de degustar um Casa Venturini Chardonay. Agora um 2009.
Mais uma vez reavivei todas as sensações de aromas perfumados e de frutas cítricas avalisadas no 2010, buquê notadamente de pêras, maças e abacaxi num vinho branco que já vai deixando sua marca. A Chardonay se faz presente de modo frutado impositivamente, a começar por sua cor amarelo palha com reflexos esverdeados, típicos da cepa.
Na boca, confirmam-se os aromas. Desce macio, arredondado, sem arestas de qualquer espécie.
Não se nota fermentação malolática dando-lhe sabores mais puros da Chardonay.
Fresco, elegante, equilibrado. Com retrogosto longo e marcante.
O Chardonay feito com uvas de Livramento é um marco no grupo de vinhos brancos nacionais. Um dos melhores por sua qualidade.
Esta é a minha opinião.
Natal, fim de ano, festas, feriados, reunião de família, combina com champagne, espumantes, bebidas que exalam alegria.
O champagne de Nicolas Feuillate é um produto harmonioso feito de modo tradicional, champenoise, de três cepas “champenóis”: 25% de Chardonay, 40% de Pinot Noir e 35% de Pinot Meunier. Fica descansando três anos nas caves escuras de Chouilly, perto de Épernay,”a capital du Champagne”, antes de ir para o mercado.
Sua cor é típica dos champanhes: amarelo palha com reflexos dourados. Perlage bem definido e consistente convidava a sorvê-lo logo.
Os aromas que se desprendem denotam frutas cítricas, como pêras e abacaxi e um pouco de menta.
Na boca, confirma-se os aromas e sabores de frutas como pêssegos, maças, peras. Destacamos a sua frutuosidade, a elegância, a delicadeza, a harmonia entre os aromas e sabores. Sua acidez combinando muito bem com o adocicado conferindo-lhe uma personalidade bem específica, dentro do que se espera num champagne.
Um típico representante de uma AOC Champenois.
Com essa bebida magistral ingressei no ano de 2012. Santé! Esta é a minha opinião.
Três termos estranhos a quem não
está acostumado ao mundo do vinho. Apenas alguns conhecem dos rótulos das
garrafas, mas poucos entendem.
Três termos do trabalho diário de quem lida com
vinho nos países mais produtores. De uma forma, existem dois tipos de vinho: os
varietais e os misturados.
Os varietais são de um único tipo
de uva. São os clássicos do Novo Mundo. Exemplo: Cabernet Sauvignon, Merlot,
Tannat, Syrah, Malbec e tantos outros.
Nos misturados , são conhecidos
como assemblages ou cuvées. Os assemblages
usam uvas distintas, como exemplo o clássico vinho de Bordeaux que mistura
Cabernet Sauvignon, Merlot e Petit Verdot. Já os cuvées, podem ser de mesma uva, mas de safras distintas.
Esses procedimentos diferenciam o
tratamento das cepas nos diversos continentes. Na Europa, mais antigo produtor,
as assemblages predominam, sendo raros os varietais. Naquelas, o tino do
produtor de vinho aflora, onde, na mistura, procura dar um toque mais
particular e especifico no produto, corrigindo alguma defecção e agregando outras,
interferindo em qualquer fase da produção. Além do exemplo de Bordeaux, temos
os fortificados portugueses, sendo em que em alguns, tem-se mais de quarenta
tipos de uvas mescladas.
É um perfeito exercício de
paciência a espera do momento certo para intervir e buscar-se o produto
desejado. É a verdadeira ciência do vinho na sua máxima extensão.
Um vinho branco da região de Berzo, Espanha, região pouco conhecida no Brasil, assim como a uva Godello.
De cor amarelo palha remetendo aos bons brancos, nos apresenta sutis aromas de maças verdes, laranjeira e flores.
Aparenta ser frisante, mas não é. Tem todo estilo, mas sem as borbulhas e perlage.
Na boca, revelam-se e confirma-se os aromas e sabores de frutas cítricas, verdes. Marcantemente.
Muito fresco, alegre, bem frutado, com nuances minerais.
A uva Godello é autóctone na Espanha e não encontramos similar no Brasil, sendo, portanto, um vinho inédito, sem termos de comparação com os brancos nacionais e mesmo os mais destacados estrangeiros. É único.
Suave, elegante, não aparenta o teor alcoólico que possui-13%. Possui um final longo e persistente.
Um excelente bebida para um aperitivo num fim de tarde alegre e festivo. Ou mesmo que não seja, para levantar o astral. Esta é a minha opinião.