terça-feira, 29 de outubro de 2013

CAMPOS DE CIMA TANNAT 2006


CAMPOS DE CIMA TANNAT 2006

FlávioMPinto


Mais um belo vinho da fronteira oeste do Rio Grande. É a região da Campanha Gaúcha mostrando serviço. Este vem de Itaqui, da Campanha Oriental, próxima da Argentina.

Que a uva Tannat se deu muito bem no terroir da Campanha, gerando excelentes vinhos,  não mais é segredo.  Com um bouquet pronunciado de cerejas e uma bela cor rubi forte, escura,  e lágrimas generosas, o cartão de apresentação do Campos de Cima Tannat está na taça. Com fortes nuances de cerejas, framboesas e mirtilos é marcante a frutuosidade.

Na boca não deixa, também, de ser um vinho muito elegante, com taninos finos, forte personalidade e muito bem enquadrados pelo teor alcoólico de 13% e pelo estágio nas barricas de carvalho.

Bem encorpado, deixa um final marcante, frutado e duradouro. Um vinho muito bem equilibrado.

Tem potencial de guarda e o Tannat não deve ser consumido jovem. Este 2006 estava no ponto certo.

Esta é a minha opinião.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ESTÓRIAS DO VINHO


ESTÓRIAS DO VINHO

 A DESCOBERTA DA REGIÃO DA CAMPANHA

FlávioMPinto


                                  Videiras da Vinicola Campos de Cima, na Campanha Oriental


Foi a partir de 1970 que a fronteira oeste recebeu o maior investimento tecnológico da sua história: pesquisas da Universidade da Califórnia, e confirmadas mais tarde em pesquisas a campo pela Universidade de Pelotas, descobriram um patrimônio adormecido nas coxilhas gaúchas. A Universidade americana mapeou por satélite a região sul e indicou a Campanha como a mais indicada para produção de vinhos superiores.

A região da Campanha gaúcha, que vai de Caçapava a Uruguaiana, acostumada com suas pastagens e colinas ocupadas por rebanhos de gado e ovelhas começou a mudar. Um relatório de zoneamento vitivinicola feito pela Universidade de Pelotas datado de 1974 permitiu a instalação da Almadén dando inicio ao ciclo industrial da uva na fronteira.

Sim, ciclo industrial, pois desde as priscas eras em Sant’Ana do Livramento era rara a casa que não possuía uma parreira a fazer sombra nos seus pátios. Nos verões quentes ficavam carregadas de uvas Moscatel e uma branca de bagos grandes e casca fina eram os destaques. Também era muito concorrida uma espécie preta de bagos pequenos e muito escura usada para fazer sucos.

A cultura da uva não era estranha ao povo santanense e a instalação da Almadén foi só uma questão de tempo.

As características do terroir  começaram a dar seus frutos com vinhos das mais diferentes uvas, que se “aquerenciaram” muito bem nas coxilhas de Sant”Ana , trazendo outras vinícolas a se instalarem por lá e em toda região da Campanha.

Estava descoberta a capacidade vitivínífera do Paralelo 31 com solos e climas adequados ao cultivo de uvas finas. Surgia a região da Campanha Gaúcha como uma das últimas regiões vitiníferas do mundo a serem desbravadas. Os solos e climas adequados a produção de vinhos de alta qualidade estão localizados em duas faixas distintas a norte e sul dos Paralelos 30 e 40 e todos nas proximidades do Paralelo 31. Praticamente toda produção do dito Novo Mundo está nessas condições.  Mendonza, Stellenbosch, Santiago, Nova Gales do Sul, e  obviamente, a região da Campanha gaúcha , tudo ao Sul. Ao Norte, encontram-se o Napa Valley, Santa Clara, San Benito, Alameda, Monterrey e Cienega, todos na Califórnia.

O sucesso do empreendimento inicial é agora confirmado com a chegada de grandes vinícolas á região acelerando a transformação das pastagens em videiras, permitindo a grata convivência da criação de gado bovino e ovino com as videiras.

Estamos chegando ao ponto de afirmação definitiva da região da Campanha como produtora de vinhos de alta qualidade.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

BEBENDO VINHOS E DEGUSTANDO HISTÓRIA


BEBENDO VINHOS E DEGUSTANDO HISTÓRIA

FlávioMPinto

Outro dia, em visita á fronteira, passeando pelas gôndolas de vinhos do Siñeriz Freeshop, em Rivera-Uruguai, encontrei vinhos que me levaram a uma viagem quase mil anos atrás. Foi a época dos Templários, lá pelos anos 1200. Época em que os Templários eram uma potência militar, religiosa e financeira.

Pois bem, me deparei com o Pape Clément, um tinto de Pessac  Leognan em Bordeaux, mais especificamente de Graves no Médoc. No contrarrótulo sua origem: eram uvas de terras originalmente pertencentes a Bertrand de Goth.

Aí tem início uma longa estória. Felipe IV, o Belo, rei da França era um rei devedor dos financistas da época, particularmente composta por protestantes e a Ordem dos Cavaleiros Templários. A eles devia terras, propriedades e muito dinheiro. Entre 1290 e 1300, arquitetou um plano de saldar suas dívidas com os protestantes. Simplesmente prendeu-os sob inúmeras acusações e extinguiu o que devia a eles. Contra os Templários pouco poderia fazer, pois estes só deviam obediência ao Papa, além de serem muito poderosos militarmente. Mais uma vez, maquiavelicamente planejou ter um Papa sob sua batuta e conseguiu, colocando, como tal, Bertrand de Goth,  o bispo de Saint-Bertrand-de-Comminges , uma comuna nos Pireneus franceses, localizada no departamento da Alta Garona, região dos Médios Pirenéus.

Este vinho não me trouxe boas recordações históricas, pois Clément V, nome adotado por Bertrand de Goth no papado, foi o Papa que exterminou os Templários com alegações falsas forjadas por Felipe, o Belo e seu Guarda Selos( ministro da Justiça)Guillaume de Nogaret, condenando-os á prisão perpétua ou a fogueira como Jacques de Molay, grão mestre da Ordem dos Templários. Na fogueira, a 18 de março de 1314, De Molay rogou uma praga aos tres algozes( Felipe, Clément e Nogaret), intimando-os a comparecer ao tribunal de Deus para o ajuste de contas naquele mesmo ano e os tres morreram no mesmo ano em que o grão mestre foi condenado, cumprindo-se a profecia do grão mestre templário. Uma de suas primeiras providências( de Clement V) foi transferir o papado de Roma para Avignon. O Châteauneuf-du pape, o castelo que começou a ser construído para o papa marcou a região. Clément morreu, mas de Bispo maldito deu origem a uma AOC  em Graves e seu castelo á prestigiada AOC Châteauneuf-du-pape no Vale do Rhône, a maior grife de vinhos franceses.

A esta altura, os templários já tinham iniciado sua fuga pela vida onde houvesse perseguição por seguidores de Felipe.  

Um templário vindo da Pérsia, fez sua morada numa ermida perto de Dijon, França. Com videiras que se presume sejam das aclamadas Syrah ou Shiraz, cidade da Pèrsia de onde teria vindo, conseguiu frutificá-las a ponto de torná-las as uvas emblemáticas do  Vale do Rhône e dando origem a cidade de Hermitage, berço da Syrah ou Shiraz e de suas AOC.

Vimos, portanto, duas AOC e uma casta emblemáticas para a vitivinicultura francesa e muita história e estórias.

CORDILHEIRA DE SANT'ANA GEWÜRZTRAMINER RESERVA ESPECIAL 2004


CORDILHEIRA DE SANT'ANA GEWÜRZTRAMINER RESERVA ESPECIAL  2004

FlávioMPinto


Um vinho branco com essa idade tem-se de ter muito cuidado. Ainda mais brasileiro, que não tem, ainda, a respeitabilidade da longevidade.

Ao ser aberta a garrafa os aromas típicos da casta se pronunciaram, mas não de modo marcante. Foram aromas de pétalas de rosas suaves e alguns cítricos. A cor amarelo pálida estava viva e ali dizia que representava uma uva de elite europeia: a alemã Gewürztraminer.

A casta Alemã-alsaciana se deu muito bem nos vinhedos da Cordilheira de Santana gerando ótimos vinhos e a safra de 2004 ajudou um bocado.

Na boca se revelou um vinho untuoso e não esperava tamanha vitalidade. Traços de lichia e outros cítricos como limão e até de melão se apresentaram no branco Gewürztraminer da Cordilheira de Sant'Ana. Boa acidez não incomodando a tipicidade aromática da casta.

A esta altura do campeonato já está mais suave do que deveria e com o teor alcoólico de 12,5% ajudando.

Deixou um final muito curto.

A mostra deu provas de que poderemos ter vinhos brancos de longevidade relativa, digamos 10, 15 anos sem perder suas características.

É o vinho branco brasileiro da região da Campanha se apresentando e buscando seu  espaço.

Um belo vinho que não temeu o tempo, pois em 2013 ainda se mostra firme, tendo sido conservado a contento.

Esta é a minha opinião.

domingo, 13 de outubro de 2013

CAMPOS DE CIMA SHIRAZ CABERNET FRANC 2009


CAMPOS DE CIMA SHIRAZ CABERNET FRANC 2009

FlávioMPinto

A tempos estava para degustar esse vinho da nobre vinícola butique de Itaqui na Campanha Oriental.

Duas uvas emblemáticas e estava curioso para ver como se comportariam nos campos de Itaqui.

A Campos de Cima trabalha direto com a EMBRAPA nas suas experiências vinícolas sempre acertadas, portanto, era de se esperar um bom produto.

Não fui surpreendido. Um vinho escuro, forte, com poucos aromas frutados,  mas que denotam amoras e flores silvestres. Lágrimas consistentes que marcam  sua intensa untuosidade e teor alcoólico baixo de  12,5%.

Na boca se revela um vinho gordo, untuoso, muito concentrado, na minha avaliação, de corpo pronunciado. Enche a boca, de boa presença. De média tanicidade. Um vinho cálido, aconchegante, acolhedor. Baixa acidez.

Deixou um final marcante e duradouro.

Esta é a minha opinião.

sábado, 12 de outubro de 2013

CHÂTEAU BARTHEZ CRU BOURGEOIS 1996


CHÂTEAU BARTHEZ CRU BOURGEOIS 1996

FlávioMPinto




Um vinho antigo merece cuidados especiais antes da degustação. Ainda recordo da barbeiragem que cometi com o Château Fonrazade 2003....Gato escaldado...

O Château Barthez é um filho da margem esquerda do Gironde, do Haut Médoc. Prepondera a Cabernet Sauvignon nesse blend bordalês.

Depois de uma boa aeração, iniciamos os trabalhos, observando a cor que já não era tão forte, mas se mostrava viva, bem violácea. Não apresentava bordas atijoladas. Aromas típicos da cepa se manifestavam com cerejas e amoras, mas suavemente.

Na boca, manteve a suavidade já demarcada pela antiguidade e perda da alcoolicidade latente, embora o teor original seja de 12,5%. Os taninos mais que domados pelo envelhecimento mostram-se coerentes com o quadro.

O frutado não se destacou muito, embora traços de cerejas e amoras se apresentassem juntamente com notas balsâmicas e de cassis.

Deixou um final de boca curto, mas marcante e representativo.

 Era o que esperava de um vinho com essa longevidade. Não se apresentou como um vinho vigoroso, forte, musculoso, mas um produto envelhecido que não perdeu seu caráter.

Envelheceu dignamente se apresentando bem. Seria muito bem acompanhado por uma boa música antiga romântica padrão Norberto Baldauf.

Esta é a minha opinião.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A BATALHA DE LIVRAMENTO

A BATALHA DE LIVRAMENTO
FlávioMPinto
Foi uma batalha no tempo.
Numa oportunidade degustei  o  Vinhas Velhas 2011, da Almadén-Brasil, instalada como National  Distillers desde 1974 em Livramento e noutra, o AMAT 2007, das Bodegas Carrau-Uruguai, numa extensão da Carrau de Montevidéu desde 1976 em Rivera.  
Uma luta para o Vinhas Velhas desafiar o melhor Tannat do mundo.
Ambos da fronteira Brasil-Uruguai e distantes um do outro a poucos quilômetros, um em Palomas e outro no Cerro do Chapéu. O mesmo terroir, pode ser, embora se reconheça que metros fazem a diferença entre eles. Os Romanée Conti e Vosne Romanée  franceses que o digam.
Um representado pelo Cerro de Palomas , outro pelo do Chapéu.  Formações rochosas bem semelhantes que dão vida aos campos e colinas fronteiriças das cidades gêmeas de Livramento e Rivera.
O Vinhas Velhas, um produto inicial da safra de 2011, é uma exceção na Almadén: um vinho de elite cercado por uma produção de vinhos baratos dirigidos a um público não muito afeto nem conhecedor dos bons vinhos. O AMAT , que em 2002 já constava de um livro mundial como um dos 1001 vinhos para beber antes de morrer, de Neil Becket, ao contrário, é um vinho de elite e dirigido para ela.
Um feito em homenagem a  um antepassado, Don Francisco Carrau Amat, um dos primeiros plantadores de vitiviníferas na Catalunia no séc XIX e outro aos antigos vinhedos com mais de 35 anos da Almadén.
A degustação dos dois Tannat da fronteira, de indiscutível qualidade, foi com uma diferença de meses, primeiro o Vinhas Velhas depois o AMAT, mas não invalida a sensação deixada por esses magníficos vinhos da cepa que está fazendo sucesso na região da Campanha Gaúcha.
O êxito da Tannat no Uruguai levou junto os produtos dessa mesma uva no lado brasileiro da fronteira gerando vinhos muito distintos nas mais diversas vinícolas da região.
Até este momento esses dois vinhos são os mais diletos representantes.
Mas não são parecidos. Um já surge de fraque e cartola-AMAT,  esnobando com contrarrótulo em francês e bem acostumado a elogios e outro se credencia a recebê-los quando mais maduro-o Vinhas Velhas.
O Tannat uruguaio largou com uma tremenda vantagem. Pela qualidade, já é antigo no cenário. Já o brasileiro se credencia a longo prazo, pois tem potencial, é jovem.
Por falar em potencial, um dado em comum é a capacidade de ambos de guarda, longevidade parece ser o forte de ambos, embora ainda não evidente no  Vinhas Velhas, que é de 2011. A tanicidade, a untuosidade e o teor de álcool garantem essa característica.
Dois vinhos muito distintos nos seus nichos, um mais rodado e mais elaborado e outro ainda jovem com um potencial tremendo. Ambos apresentam bom frutado, maciez  e uma delicadeza ímpar, embora o AMAT esteja anos-luz á frente por sua antiguidade na área. Tabaco, especiarias e boa integração álcool-carvalho são aspectos em comum.
Dois vinhos de excelência para os mesmos públicos. Para quem quer, se fazem entender com sua complexidade.
O preço de cada um faz parte da fama e requinte com que são elaborados. O AMAT sai por aproximadamente 60 dólares nos free-shop de Rivera e o Vinhas Velhas  59,90 reais na Cave  Vinhos da Campanha em Livramento.
O vencedor dessa batalha foi o consumidor desses portentosos vinhos.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

AMAT 2007


AMAT 2007

FlávioMPinto





Não é á toa que este vinho das Bodegas Carrau, Rivera-Uruguai , vinícola a poucos metros da fronteira com o Brasil e Livramento, consta do rol de 1001 vinhos para beber antes de morrer, livro de Neil Becket. Becket qualifica o vinho Tannat da Carrau como “da era espacial”.

De fato, o portentoso Tannat do Cerro do Chapéu, quase se debruçando sobre Livramento, é fantástico e não tem concorrentes á vista. E o terroir uruguaio, que já tomou posse da Tannat, a vinifica com sabedoria.

A começar pelo contrarrótulo todo em francês, distintíssimo. Cor violeta forte, lágrimas fugazes indicam seu teor de 13,5% de álcool.

Ao se desarrolhar, já se desprendem aromas frutados, muito perfumados, que lhe dão destaque. Um forte bouquet de violetas e amoras silvestres invade a atmosfera que circunda a garrafa, já indicando o que vem a seguir. O vinho fronteiriço nos conquista rapidamente com seus taninos amansados e perfeitamente integrados com o álcool e o carvalho. Um vinho sem furos nem espaços para qualquer defeito.

Delicado , mesmo sendo um Tannat potente e nervoso,  não é muito encorpado, perpassando uma delicadeza bárbara. É suave, elegante, e cheio de adjetivos superlativos.

Também não é á toa que foi produzido no limite do potencial terroir brasileiro da Campanha Gaúcha e o uruguaio, indicando que este terroir é contíguo aos dois países e dando origem a vinhos que já se destacam no cenário internacional.

Deixa, ainda, um excelente final de boca duradouro e também frutado. Este é um vinho que vale a pena.

Esta é a minha opinião.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

VINHO TEM NOME, SIM


VINHO TEM NOME, SIM

FlávioMPinto

Um francês, ao pedir um vinho, não se refere a um vinho tinto de tal marca. Apenas se refere à AOC. Trocando em miúdos, pede um Graves, um Bordeaux, um Sauternes e por aí vai. O garçom que vai atender o pedido sabe que está sendo  pedido um vinho tinto da região de Graves em Bordeaux, um tinto de Bordeaux ou um branco da região de Sauternes. Os italianos se orgulham dos seus Brunellos di Montalcino e Amarones.

O vinho é chamado elegantemente por seu nome próprio pelos franceses que criaram a classificação dos vinhos.

Uma valorização do produto é imediata. Assim como também ganham o terreno onde é produzido( o terroir) e o produtor. Chegam até verdadeiras grifes como os vinhos citados acima e os Châteauneuf Du Pape, do vale do Rhône, por exemplo.

Chamar o vinho pelo nome é orgulhar-se dele.