quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A BATALHA DE LIVRAMENTO

A BATALHA DE LIVRAMENTO
FlávioMPinto
Foi uma batalha no tempo.
Numa oportunidade degustei  o  Vinhas Velhas 2011, da Almadén-Brasil, instalada como National  Distillers desde 1974 em Livramento e noutra, o AMAT 2007, das Bodegas Carrau-Uruguai, numa extensão da Carrau de Montevidéu desde 1976 em Rivera.  
Uma luta para o Vinhas Velhas desafiar o melhor Tannat do mundo.
Ambos da fronteira Brasil-Uruguai e distantes um do outro a poucos quilômetros, um em Palomas e outro no Cerro do Chapéu. O mesmo terroir, pode ser, embora se reconheça que metros fazem a diferença entre eles. Os Romanée Conti e Vosne Romanée  franceses que o digam.
Um representado pelo Cerro de Palomas , outro pelo do Chapéu.  Formações rochosas bem semelhantes que dão vida aos campos e colinas fronteiriças das cidades gêmeas de Livramento e Rivera.
O Vinhas Velhas, um produto inicial da safra de 2011, é uma exceção na Almadén: um vinho de elite cercado por uma produção de vinhos baratos dirigidos a um público não muito afeto nem conhecedor dos bons vinhos. O AMAT , que em 2002 já constava de um livro mundial como um dos 1001 vinhos para beber antes de morrer, de Neil Becket, ao contrário, é um vinho de elite e dirigido para ela.
Um feito em homenagem a  um antepassado, Don Francisco Carrau Amat, um dos primeiros plantadores de vitiviníferas na Catalunia no séc XIX e outro aos antigos vinhedos com mais de 35 anos da Almadén.
A degustação dos dois Tannat da fronteira, de indiscutível qualidade, foi com uma diferença de meses, primeiro o Vinhas Velhas depois o AMAT, mas não invalida a sensação deixada por esses magníficos vinhos da cepa que está fazendo sucesso na região da Campanha Gaúcha.
O êxito da Tannat no Uruguai levou junto os produtos dessa mesma uva no lado brasileiro da fronteira gerando vinhos muito distintos nas mais diversas vinícolas da região.
Até este momento esses dois vinhos são os mais diletos representantes.
Mas não são parecidos. Um já surge de fraque e cartola-AMAT,  esnobando com contrarrótulo em francês e bem acostumado a elogios e outro se credencia a recebê-los quando mais maduro-o Vinhas Velhas.
O Tannat uruguaio largou com uma tremenda vantagem. Pela qualidade, já é antigo no cenário. Já o brasileiro se credencia a longo prazo, pois tem potencial, é jovem.
Por falar em potencial, um dado em comum é a capacidade de ambos de guarda, longevidade parece ser o forte de ambos, embora ainda não evidente no  Vinhas Velhas, que é de 2011. A tanicidade, a untuosidade e o teor de álcool garantem essa característica.
Dois vinhos muito distintos nos seus nichos, um mais rodado e mais elaborado e outro ainda jovem com um potencial tremendo. Ambos apresentam bom frutado, maciez  e uma delicadeza ímpar, embora o AMAT esteja anos-luz á frente por sua antiguidade na área. Tabaco, especiarias e boa integração álcool-carvalho são aspectos em comum.
Dois vinhos de excelência para os mesmos públicos. Para quem quer, se fazem entender com sua complexidade.
O preço de cada um faz parte da fama e requinte com que são elaborados. O AMAT sai por aproximadamente 60 dólares nos free-shop de Rivera e o Vinhas Velhas  59,90 reais na Cave  Vinhos da Campanha em Livramento.
O vencedor dessa batalha foi o consumidor desses portentosos vinhos.

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