A BATALHA DE LIVRAMENTO
FlávioMPinto
Foi uma batalha no tempo.
Numa oportunidade degustei o Vinhas
Velhas 2011, da Almadén-Brasil, instalada como National Distillers desde 1974 em Livramento e noutra,
o AMAT 2007, das Bodegas Carrau-Uruguai, numa extensão da Carrau de Montevidéu
desde 1976 em Rivera.
Uma luta para o Vinhas Velhas desafiar o melhor Tannat do
mundo.
Ambos da fronteira Brasil-Uruguai e distantes um do outro a
poucos quilômetros, um em Palomas e outro no Cerro do Chapéu. O mesmo terroir,
pode ser, embora se reconheça que metros fazem a diferença entre eles. Os
Romanée Conti e Vosne Romanée franceses que
o digam.
Um representado pelo Cerro de Palomas , outro pelo do
Chapéu. Formações rochosas bem
semelhantes que dão vida aos campos e colinas fronteiriças das cidades gêmeas de
Livramento e Rivera.
O Vinhas Velhas, um produto inicial da safra de 2011, é uma
exceção na Almadén: um vinho de elite cercado por uma produção de vinhos
baratos dirigidos a um público não muito afeto nem conhecedor dos bons vinhos. O
AMAT , que em 2002 já constava de um livro mundial como um dos 1001 vinhos
para beber antes de morrer, de Neil Becket, ao contrário, é um vinho de
elite e dirigido para ela.
Um feito em homenagem a
um antepassado, Don Francisco Carrau Amat, um dos primeiros plantadores
de vitiviníferas na Catalunia no séc XIX e outro aos antigos vinhedos com mais
de 35 anos da Almadén.
A degustação dos dois Tannat da fronteira, de indiscutível
qualidade, foi com uma diferença de meses, primeiro o Vinhas Velhas depois o
AMAT, mas não invalida a sensação deixada por esses magníficos vinhos da cepa
que está fazendo sucesso na região da Campanha Gaúcha.
O êxito da Tannat no Uruguai levou junto os produtos dessa mesma
uva no lado brasileiro da fronteira gerando vinhos muito distintos nas mais
diversas vinícolas da região.
Até este momento esses dois vinhos são os mais diletos
representantes.
Mas não são parecidos. Um já surge de fraque e cartola-AMAT,
esnobando com contrarrótulo em francês e
bem acostumado a elogios e outro se credencia a recebê-los quando mais maduro-o
Vinhas Velhas.
O Tannat uruguaio largou com uma tremenda vantagem. Pela
qualidade, já é antigo no cenário. Já o brasileiro se credencia a longo prazo,
pois tem potencial, é jovem.
Por falar em potencial, um dado em comum é a capacidade de
ambos de guarda, longevidade parece
ser o forte de ambos, embora ainda não evidente no Vinhas Velhas, que é de 2011. A tanicidade, a
untuosidade e o teor de álcool garantem essa característica.
Dois vinhos muito distintos nos seus nichos, um mais rodado
e mais elaborado e outro ainda jovem com um potencial tremendo. Ambos
apresentam bom frutado, maciez e uma
delicadeza ímpar, embora o AMAT esteja anos-luz á frente por sua antiguidade na
área. Tabaco, especiarias e boa integração álcool-carvalho são aspectos em
comum.
Dois vinhos de excelência para os mesmos públicos. Para quem
quer, se fazem entender com sua complexidade.
O preço de cada um faz parte da fama e requinte com que são
elaborados. O AMAT sai por aproximadamente 60 dólares nos free-shop de Rivera e
o Vinhas Velhas 59,90 reais na Cave Vinhos da Campanha em Livramento.
O vencedor dessa batalha foi o consumidor desses portentosos
vinhos.
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