segunda-feira, 28 de maio de 2012

CHÂTEAU VIEUX GEORGET BORDEAUX SUPERIEUR 2006


CHÂTEAU VIEUX GEORGET BORDEAUX SUPERIEUR 2006

FlávioMPinto
Mais um vinho certificado da agricultura biológica francesa, tão em moda nestes dias.
O Château Vieux Georget fica na cidadezinha de Saint Laurent Du Bois, no departamento de Gironde,  uma pequeníssima vila de não mais de 300 habitantes no estuário do  Gironde. Meia dúzia de casarões cercados de videiras por todos os lados e colinas onduladas , a perder de vista, que variam de 37 a 97 metros de altitude. Parece a região da Campanha gaúcha.
Jean da Fré produz um vinho engarrafado no Château com a vocação da Cabernet Sauvignon. Violeta, forte, perfumado, dando ares de sua graça já no destampar da rolha. Um bouquet bem ao gosto bordalês: frutado com notas cítricas e menta.
Na boca, a forte presença de cerejas, baunilha e framboesas. Notas de eucalipto também se fazem presentes deixando o vinho um pouco picante. Mentolado levemente.  Seus 12% de teor alcoólico são bem nítidos.
Medianamente encorpado, com taninos macios , mas bem pronunciados. Complexo, deixa um retrogosto duradouro.
Um Gran Vin de Bordeaux.
Esta é a minha opinião.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

VALRÉAS “Cuvée prestige” Côtes Du Rhône Villages 2010


VALRÉAS “Cuvée prestige” Côtes Du Rhône Villages 2010
FlávioMPinto
Um Côtes Du Rhône meio rústico. É um Village, uma versão mais regional do blend do Côtes Du Rhône. É da AOC Côtes Du Rhône feito pela Cooperativa Union des Vigneron de Côtes Du Rhône –Vigneron de l’Enclave, de Tulete-France. Composto de 75% de Grenache e 25% de Syrah é de uma cor bem característica, da mais conhecida combinação de castas do Rhône. Um violeta forte, escuro, impenetrável com bordas já clareando. Queiram ou não é um Côtes Du Rhône. Ainda é jovem, mas se revela num bom estágio para beber. O bouquet do blend se apresenta logo ao se desarrolhar a garrafa inundando o ambiente. Cerejas e flores silvestres se pronunciando.
Pouco amadeirado e com sabores de ameixas, morangos e pimentas é de médio corpo, tendendo a um Pinot Noir , mas nos remete a personalidade da Grenache, casta típica do vale do Rhône e partícipe de todos os blends que distinguem os vinhos daquela área.
Retrogosto forte e duradouro. O teor alcoólico de 13,5% não mascara a passagem por madeira nem as  frutas. Muito tânico e alcoólico. Marcante. Potente. Complexo. Não é fácil entendê-lo. Mas um belo vinho.
Beba-o pouco refrescado. Talvez uns bons anos de guarda o faça bem melhor. Mas assim já está bom.
Esta é a minha opinião

O pronunciamento de Zanini


Reproduzo aqui o pronunciamento insuspeito de Luiz Henrique Zanini, da Vinícola Vallontano, sobre as tentadas salvaguardas.Total apoio as suas palavras.
O pronunciamento de Zanini

Luiz Henrique Zanini é enólogo e proprietário da Vallontano, pequena vinícola gaúcha. Durante um evento que reuniu as pequenas empresas produtoras, no Restaurante Aprazivel no Rio de Janeiro, fez um pronunciamento, contra as salvaguardas, que merece ser compartilhado. Vamos a ele.
“ É com imensa alegria que iniciamos este encontro. Hoje é um dia de júbilo inebriante, um dia de celebração. Estamos aqui para resistir a tentativa de genocído da diversidade do vinho no Brasil. Estamos aqui para resistir ao fim da pluralidade, estamos aqui para dizer a verdade, a nossa verdade,a única verdade.
Estamos aqui porque não queremos ser engolidos pelo monstro da economia de escala. Estamos aqui para defender os vinhos brasileiros, e sobretudo para debater a tentativa perversa de privilegiar apenas a grande indústria de vinhos no Brasil em detrimento da artesania.
O Aprazível, já foi palco de outras batalhas e novamente abre suas portas para um momento importante e histórico, e sem precedentes para os rumos da vitivinicultura no Brasil. O Aprazível é para nós, pequenos produtores brasileiros, o fórum legítimo para discutir a vitivinicultura brasileira. O palco perfeito para quem não tem vez e voz em sua própria terra.
É o púlpito para ressonarmos nosso descontentamento com as políticas impostas pelo setor, e por todas as entidades que apóiam o Selo Fiscal e a Salvaguarda. Falam em patriotismo, falam em brasilidade, falam em responsabilidade, falam em abrir a cabeça, falam em erguer a taça, falam em dizer sim.
Mas também nos acusam de boicotadores, de traidores do vinho brasileiro. Pois bem, gostaria de questionar quem são os traidores de fato. Será que nos venderíamos por 30 moedas? Será que teríamos todo este poder que agora nos imputam? Se não, vejamos: quem boicotou as mais de 400 vinícolas que foram contra o Selo Fiscal?
Quem boicotou os cidadãos que firmaram de próprio punho, através de abaixo assinado, esta contrariedade? Quem boicotou o pequeno produtor ao pedir que derrubassem a normativa que isentava o Selo fiscal para vinícolas que produzissem até 20.000 litros de vinho? Quem está boicotando a discussão sobre o sistema tributário Simples para as pequenas vinícolas?
Quem boicotou as vinícolas familiares que foram fechadas por não respeitarem a impraticável normativa IN 05 (normativa esta que impossibilita qualquer agricultor de fazer vinho em sua própria propriedade?) Quem boicota os pequenos agricultores e os trata como verdadeiros criminosos por fazerem vinho para seu próprio consumo? Quem são os boicotadores do vinho brasileiro?
Acusam indiscriminadamente os pequenos produtores, por estarem ligados a esta ou aquela importadora, acusam pequenos produtores por serem desta ou daquela etnia, acusam os pequenos produtores de serem deste ou daquele estado,acusam os pequenos produtores de estarem promovendo o cáos.
Acusam os pequenos produtores de serem manipuladores de informações. Assim assistimos perplexos a tudo isto, a falta de elegância destas pessoas que estão botando abaixo a imagem do vinho brasileiro,.
Prezados cidadãos e cidadãs, o marketing não esconde atos fascistas, o marketing não limpa a alma, o marketing não forja caráter, o marketing não faz vinho! Mas querem reverter através dele a insanidade que foi o pedido de Salvaguarda. Ora vejamos sobre a luz da razão esta abominação, Quem pediu a Salvaguarda para os vinhos brasileiros?
Segundo um renomado enólogo e produtor de vinho brasileiro, foram as entidades “representativas” do Setor que pediram a Salvaguarda, mais ninguém. E quem são estas entidades? De que elas são formadas? De que matéria? De seres inanimados? De biomas desconhecidos? De lontras, leões marinhos, salames, porcos, raposas? Quem são seus dirigentes?
Será que estas entidades abririam suas atas publicamente para termos acesso a estas votações? Tanto do Selo Fiscal quanto da Salvaguarda? Ou elas não existem? De onde surgiram estas idéias? Da caixa de pandora? Onde estas idéias foram debatidas? Quando, como e com quem? Estas atas não apareceram e nem vão aparecer, porque apenas poucas vinícolas decidem por centenas de produtores.
Fácil agora recorrer a cortina obscura das “entidades representativas” do setor, para safarem-se do imbrólio. Disseram também que a Salvaguarda é um ato social, pois dela dependem 20.000 famílias. Gostaria de saber se as 20.000 famílias sabem das contrapartidas da Salvaguarda? Para que o governo adote as medidas protecionistas o setor se compromete a implementar diversas medidas compensatórias.
Vejamos algumas delas: “a implantação de 1.500 ha de vinhedos em áreas fora das áreas tradicionais”, quem sabe propomos as 20.000 famílias serem os novos pedestres do mar vermelho protagonizando mais um êxodo na história? Quem tem mais condições de implantar estes 1.500 hectares?
Outro exemplo, será a diminuição de até 15% do custo de produção da matéria-prima e redução em 35% com relação a regiões tradicionais, onde hoje habitam estas 20.000 familias. Além disso, teremos que aumentar 37% a produtividade dos nossos vinhedos, ou seja, teremos que piorar a qualidade de nossa uva? Isto é insano! E pasmem, a Salvaguarda incentiva fusões de empresas para ganho de escala, e pretendem investir do 3º ao 8º ano, 40 milhões de reais em promoção “coletiva”.
Quem pagará esta conta? Para quem está sendo direcionada esta “coletividade”? É revoltante saber que nos últimos anos as grandes coorporações conseguiram tudo do IBRAVIN, e este mesmo instituto não apresentou um único plano para melhorar a competitividade das vinícolas familiares.
Ao contrário, nos presenteou com o burocrático e ineficaz Selo Fiscal. Não apresentou uma única proposta para financiar pequenos produtores e incentivar a vitivincultura familiar, ao contrário está exigindo cursos de qualificação para o implantação de uma normativa utópica e impraticável para os colonos, a IN05.
Não há um único projeto para vinhos artesanais no país, ao contrário puniu os agricultores que elaboravam vinhos em suas propriedades. Novamente pergunto quem está sofrendo o boicote durante anos?
Quem são os boicotadores. A grande indústria brasileira usa a ardilosa estratégia de se colocar como vítima. Queremos saber quem está de fato boicotando o vinho brasileiro? Meus caros, por isto estamos aqui, para dar nossa resposta de forma elegante e prazerosa, ao evento que simultaneamente acontece neste exato momento em outro local promovido pelos defensores do Selo Fiscal, da Salvaguardas e das Normativas, que servem apenas de instrumentos de defesa, numa vergonhosa e escancarada tentativa de reserva de mercado.
Se fizeram dívidas e dimensionaram mal o seu mercado e suas expansões agora que paguem! E não dividam sua dívida com o setor, se fosse assim, também gostaríamos que o governo pagasse nossos Proger e Prodefrutas. Mas ao invés da choradeira estamos aqui, no verdadeiro campo de batalha “o mercado” tentando vender nossos vinhos sem nenhuma salvaguarda, sem recorrermos ao “tapetão”!
Não poderia deixar de fazer referência a um grande homem de coragem, e proprietário do restaurante que possui a melhor carta de vinho do Brasil, Pedro Hermeto. Parabéns pela coragem, pela determinação e entendimento.
O Aprazível foi e sempre será a grande referência para o vinho brasileiro. Também agradeço a todos que se empenharam nesta luta de defesa do pequeno produtor brasileiro.
Certamente o sacrifício e o sudário impressos em nossos dias, não nos roubaram a dignidade, nem execraram de nós a sensibilidade; ao contrário, nossas gárgulas inundaram as nossas vidas de alegria e serenidade. O vinho imaculado corre em nossas veias como o Vesúvio em seus tempos de glória! Somos parte de um mesmo corpo, amantes de um mesmo amor, fugitivos de guerra procurando a paz.
Como homens e mulheres de um novo tempo, temos somente um dever: procurar a verdade. Que ela nos guie e nos liberte, que ela nos desvende outros caminhos além daqueles indicados por outros, que ela nos esclareça e nos dê essência. Sigamos então a verdade da luz da lua numa noite de verão, bebamos um vinho autêntico com nosso melhor amigo, sejamos um pouco o corpo do Criador, sejamos os ramos da videira a frutificar pela eternidade, sejamos odres novos para o vinho novo.
Cantemos os salmos da vida, festejemos o Cântico dos Cânticos, sempre e sempre. Façamos do vinho o nosso filho unigênito, respeitando suas nuances e suas estações, façamos dele nossa vida, como nossos sonhos, outrora verdadeiros, como o mar calmo depois do verão.
Que os sonhos de cada um que se encontra hoje aqui, se tornem uma vinha fértil, que nossos braços sejam como os ramos e frutifiquem, que as nossas mãos toquem com delicadeza e carinho nossa colheita, e que nossos olhos habitem o infinito para sentirmos então todos os aromas indescritíveis, jamais sonhados, degustando a paz, e encontrando a vida plena.
No vinho a luz, no vinho a vida, no vinho o escárnio, a ousadia, no vinho o corpo, o sopro, a luz…
No vinho o mar,
No vinho o amor, o amor, o amor.
Assim seja!”

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O LADO BOM DA GUERRA CONTRA AS SALVAGUARDAS


O LADO BOM DA GUERRA CONTRA AS SALVAGUARDAS
FlávioMPinto
Como já disse um filósofo, tudo tem dois lados ou duas versões, no mínimo o lado de dentro e o de fora ou a minha e a sua versão.
Todas tem os lados bom e o ruim.
No Brasil, mais especificamente no mundo do vinho, para não dizer em outros que foram aplicadas salvaguardas e deixaram o outro lado correr solto, como no caso das aplicadas aos veículos importados e os mexicanos entraram a valer, no caso do vinho teremos uma invasão maior dos argentinos protegidos pelo MERCOSUL.
O vinho nacional, reconhecidamente progrediu a olhos vistos nos últimos anos. Ainda está a quilômetros dos europeus, mas concorre a par com os hermanos. E aí eles nos ganham no preço. Os consumidores desavisados ou sem conhecimento se “atiram” nos argentinos e chilenos de 5 dólares. Pudera, entram sem alíquotas enquanto os nossos são sobretaxados. Coisas de país tupiniquim! Verdadeiro tiro no pé!
Protegidos pelo MERCOSUL, produtos similares argentinos, principalmente, inundarão o mercado nacional. Já estamos presenciando isso no setor automotivo e agora, em definitivo, no setor vinícola. Não concorrem em qualidade, o que redundaria em concorrência saudável ao produto nacional, mas em preço, por certo depreciando o vinho nacional que se obriga a custar menos sem ganho na qualidade.
O lado bom, é que, fatalmente, a menos ou mais dias, o governo se obrigará a reduzir a tributação nestes produtos, com ganhos para todos, inclusive para o governo que arrecadará menos na unidade mas em volume ganhará. Assim ocorreu recentemente quando ocorreu uma diminuição do IPI dos automóveis. Muito pouco, mas redundou em fantásticas vendas e produção recorde.
No entanto, num governo que não abre mão sequer de um centavo na arrecadação dos impostos que lhe são afetos, é esperar para chover no deserto do Saara. Não vai adiantar ceder créditos nem abater impostos na folha de pagamentos do setor produtor de vinhos. Os 54% de impostos tem de ser reduzidos, e muito, para que o vinho nacional seja competitivo. Até internamente, pois os vinhos argentinos e chilenos, como já frisamos, atacam o mercado brasileiro aqui dentro do nosso território e sem reciprocidade alguma. E o produtor brasileiro, principalmente o pequeno, continuará a lutar contra dois inimigos.
Que o setor vinícola é aguerrido e lutador, é.
Que o setor vinícola é gerador de empregos e tecnologia, é.
 Que o setor vinícola brasileiro é competente, é.
Basta ver a revolução que está sendo causada pelos vinhos espumantes.
Então que se mostre mais e mereça o respaldo do governo de plantão.
Mas, se isso não aconteceu no setor de máquinas, no têxtil nem no automobilístico, que o vinícola espere sentado!

PORQUE PREFIRO O ASSEMBLAGE AO VARIETAL


PORQUE PREFIRO O ASSEMBLAGE AO VARIETAL
FlávioMPinto
A escolha de um vinho faz parte de um ritual que só os iniciados entendem. Tantas são as variedades e safras e até de preços, que fica difícil dizer qual é a melhor escolha que caiba no bolso e na boca.
O assemblage é feito com cortes de castas distintas, 2, 3 e até 40 como em alguns  fortificados portugueses. O varietal é monocasta. Pode ser até um cuvée, constituído de monocastas ,  mas de safras distintas, muito comum nos champagnes.
No meu caso, gosto de ser surpreendido pelo vinho. Positivamente, diga-se.
Encaro a produção do vinho como uma obra de arte. Tem de ser trabalhada nos mínimos detalhes para apresentar sabores novos.
Numa entrevista à Revista Adega, Ernesto Catena, da vinícola argentina Catena Zapata,  disse: " Um artista tem que criar constantemente. Tento fazer em cada vinho algo diferente, descobrir um sabor novo. Muitos brasileiros dizem que nossos vinhos são únicos, diferentes de outros que costumam degustar. Isso é muito gratificante, pois é justamente o que busco fazer em Mendoza. Busco cortes que me surpreendam. Aí vem a semelhança com os artistas. Cada vez que apresentam suas obras eles devem se surpreender antes do público".
 Os europeus sempre nos surpreendem com seus assemblages. Raros são os vinhos varietais daquela parte do mundo. É uma cultura quase milenar de plantio e manejo da vinha e da uva na confecção de vinhos os mais variados- o plantio em Bordeaux data de 71 a.C.. Quantos tipos de vinhos da AOC Côtes Du Rhône existem? Quantos tipos de Chateauneuf-du-Pape existem? Um diferente do outro embora feitos com as mesmas uvas. Apenas a proporção entre elas no mosto que varia de produtor para produtor e aí temos o importante: a personalidade e caráter de cada vinho. É a mão e a capacidade do produtor em aplicar sua motivação e sonhos na confecção de um vinho.
Cortes, ou assemblages,  que mostram a verdadeira personalidade do terroir e do produtor me agradam. Assim como a harmonia entre as mais diferentes castas e safras.
Salut!