quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

A ALMADÉN E O SONHO JOGADO FORA


A ALMADÉN E O SONHO JOGADO FORA

FlávioMPinto

Com a compra da Almadén anos atrás pelo Miolo Group, o universo dos vinhos na fronteira alvoroçou-se e esperava um crescimento maior daquela indústria que dominava os vinhos no Brasil. Era pequena, mas o seu prestígio era maior do que se imaginava.

A Almadén introduziu um novo conceito para os vinhos na época: a maneira de como os vinhos e seu universo são tratados, particularmente na França e Califórnia, dois dos maiores  mercados do mundo do vinho.

A começar pelo rótulos dos vinhos: muito bem confeccionados , bonitos, continham todas as informações necessárias para um bom entendedor e degustador, tal qual se viam nos vinhos franceses. Foi um sucesso no Brasil, pois o admirador de vinhos estava sendo, finalmente,  tratado dignamente como consumidor europeu. A Almadén ensinou o brasileiro a degustar vinhos de qualidade.

Certa vez, em Belo Horizonte, se não me engano em 1990, estava com a família numa churrascaria na Av Raja Gabaglia, subindo á direita logo após a Av. Contorno, quando, ao ler a carta de vinhos, perguntei ao maitre porque não tinham vinhos da Almadén. Ele me respondeu assim: “ Não temos por dois motivos- o primeiro é porque nossa adega está abarrotada, e o segundo é porque, se tivéssemos Almadén, o público só pediria ele e o que faríamos com os outros?”

O sucesso era um fato incontestável pela maneira como os degustadores eram tratados pela marca. A cidade de Livramento vivia em torno da vinícola prestigiando e a administração municipal apoiando e dando o que a empresa necessitasse em fomentos fiscais. O retorno era imediato em impostos, empregos e prestigio para a cidade fronteiriça. A cidade e seu povo admiravam e vibravam com a indústria vinícola, a ponto de inserirem um cacho de uvas na bandeira do município e a vinícola passar a adotar o Cerro de Palomas, um símbolo da cidade, nos seus rótulos.

Uma das primeiras providências dos atuais donos, o grupo Miolo, da Serra gaúcha, foi reclassificar, independente da qualidade apresentada e reconhecida no mercado brasileiro, todos os vinhos da Almadén, como de segunda categoria ( Basico  Semiluxo e Popular)  na base de uma pirâmide que os de outras filiais, equivalente ou inferiores até aos da Almaden, estavam, e estão ainda, no topo. E é claro, a seguir, retiraram o Cerro de Palomas dos seus rótulos para vigorar o seu. Foi mais um tapa na cara de uma cidade que havia abraçado o projeto vinícola da Almadén.

Para quem havia produzido vinhos de indiscutível qualidade como os da linha Ouro, Prata, Cordilheira e Palomas( Cabernet Sauvignon, Gewurztraminer, Pinot Noir , Flora Palomas, Pinot  Saint George) e outros tantos para encher de orgulho o mercado brasileiro e seus enoconsumidores. A maior prova da sua capacidade é a produção do Vinhas Velhas, um Tannat fora-de-série, talvez feito com o que restou dos antigos parreirais, como a mostrar do que é capaz, que não sei como se sente hoje, se é que vinho sente,  acompanhado de vinhos de discutível qualidade vendidos, basicamente, no mercado paulista, como se tem notícia.

Almadén, tempos atrás, com seus vinhos sofisticados, era símbolo de qualidade nos vinhos brasileiros, tão carente de um filho para enfrentar os estrangeiros com dignidade, qualidade e hombridade.

Na realidade, mercadologicamente falando, o grupo Miolo jogou milhões de reais fora ao desclassificar internamente uma  filial com marca consagrada, marketing eficiente e produtos verdadeiramente reconhecidos como líderes  no mercado que atuava. Anos de pesquisa em produtos de qualidade reconhecida no setor foram jogados fora.

Espero que os atuais donos da Almadén não esqueçam que jogaram fora os sonhos , os símbolos e esperanças de uma cidade inteira.

QUE OUTRAS VINÍCOLAS INSTALADAS, E A SE INSTALAR, NA PROMISSORA REGIÃO, TENHAM ISSO COMO FAROL!

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